2Ensaio

Ensaio sobre o ordinário: leituras do mundo através das sombras¹

Por: Daniele Rocha Viola, Brasil

Resumo

Esse texto nasce da reflexão sobre a minha prática e pesquisa que abrangem o uso de materiais oriundos do descarte. Para tal, compartilho aqui meus experimentos/trabalhos em teatro de sombras em miniatura, que são pautados na visualidade e englobam o campo do material ordinário. Essas criações fazem interface com questões do teatro de animação, visualidade e antropoceno, com intuito de se pensar leituras de mundo através de uma linguagem imagética.

Palavras-Chaves: Teatro de Sombras; Lixo; Teatro Lambe-Lambe; Antropoceno.

Esse texto nasce das minhas pesquisas artísticas e acadêmicas que se situam entre o teatro lambe-lambe², o teatro de sombras e materiais ordinários (restos do cotidiano).

     Com as experimentações nas miniaturas, investigo telas, suportes ou invólucros, silhuetas, etc., a partir do material achado, abandonado ou descartado. Eles que já não exercem mais uma função dentro do sistema para o qual foram criados, mas farão parte do mundo a qualquer custo, eles são catados e remexidos, transformados ou apenas reorganizados. E aquilo que iria para o lixo, agora ganha uma participação cênica.

     Ao pesquisar as sombras nas miniaturas, consigo trazer diversos materiais do cotidiano ordinário para a experimentação, incluindo inclusive a matéria orgânica, restos como cascas (de ovo e cebola), e estabeleço diferentes maneiras de trabalho:

1 - A partir da tela e luz

2 - A partir do invólucro

3 - A partir do texto

    Não que se estabeleça uma relação hierárquica, do que é mais importante para se começar, pois, dentro do teatro de sombras as relações são desierárquicas. Contudo, é necessário entender que cada ponto de pesquisa vai trazer um resultado muito diferente. Se inicio a partir da tela e da luz, vou investigar as texturas, movimento da luz, cor nessa tela e entender o meu espaço cênico - que é a tela -, para então a história nascer. Porém, se o início se dá pelo texto, a criação começa a nascer no campo das ideias, passo a imaginar as ações possíveis e que materiais do mundo vão dialogar com a história que desejo contar, e então sigo a pesquisa pelas materialidades que conversam com o texto.

    Se parto do invólucro, que pode ser de qualquer formato, o desenvolvimento do espetáculo de lambe-lambe vai acontecer de acordo com o que a forma propõe. Ou seja, esse recipiente vai me dizer algo já de antemão, vai determinar possibilidades de tela e como deverá ser o trabalho na criação do escuro para uma melhor performance do espetáculo.

    Como tenho investigado as sobras, recebo uma materialidade já pronta, com uma história (já tem forma, textura, peso, etc.), cabendo a mim as escolhas entre fazer grandes modificações ou aproveitar as condições plásticas que os restos me fornecem - ou combinar essas opções.

    A minha relação com os restos se dá no cotidiano a partir de um olhar singular para as coisas, associada às possibilidades que tenho disponíveis - que não são muitas. Entendo esse processo enquanto uma tecnologia do olhar, isso significa trabalhar os modos de fazer associados a um conhecimento, atenta à resolução de problemas.

    É uma tecnologia para além das inovações high tech, pois a tecnologia se apresenta enquanto uma teoria, reflexão e prática. E nesse sentido busco por essa tecnologia do olhar. A exemplo, dentro do meu universo particular, um problema é o acesso financeiro para ter materiais, e dentro do universo coletivo, o problema é o lixo produzido diariamente e descartado de maneira despreocupada, irresponsável (e que nos trouxe até esse momento do antropoceno). Esse meu modo de pesquisar e fazer, o trabalhar com lixo artisticamente, não soluciona todos os problemas supracitados, mas soluciona outros adjacentes e vai atuar em questões relacionadas, como a sensibilização quanto ao consumo e produção de lixo, a partir do confronto com a própria materialidade, com a plástica do lixo.

    A minha pesquisa, nasce portanto de possibilidades de ler o mundo a partir das sombras e das sobras. No que diz respeito às sombras, ao teatro de sombras, especificamente ao tradicional é, que em algumas práticas na Ásia, vê-se a tela como uma representação do Universo, o lugar “entre”… entre o mundo físico e o mundo espiritual:

     Aproximei-me desta maneira de olhar e comecei a investigar as sobras, principalmente as provenientes da alimentação (orgânica e inorgânica), para criar trabalhos sensíveis e que pudessem falar algo do meu, do nosso mundo hoje, mas não apenas a mera reprodução dele, mas outros confrontos, sensibilidades, outras relações. Tendo em vista também que vivemos no antropoceno - atual era geológica, que diz sobre a ação humana no meio ambiente, e as modificações que estão causando, o lixo, a sobra têm uma presença significativa em nossa vida, porque não teria no teatro de sombras? Os restos estão presentes na construção da nossa história, de nossos rastros, então tem sentido que nesse espaço que pode ser a representação do Universo, seja também uma representação do nosso mundo a partir dos restos que produzimos.

    Para então trazer essas questões, sigo o caminho do teatro de sombras contemporâneo, entendido como o “conjunto de experiências totalmente abertas, em contínua e rápida transformação e, sob muitos aspectos, ainda suscetíveis a enormes mudanças” (Montecchi, 2012, p. 35). As possibilidades de experimentar com materiais não convencionais, ordinários, tem potência de proporcionar experiências significativas para o teatro de sombras materialmente e conceitualmente.

   Isso significa produzir a visualidade no teatro de sombras com algo que é resquício da alimentação de alguém… E digo visualidade, ao invés de cenografia, pois no teatro lambe-lambe (de sombras) cada elemento tem uma denominação específica, mas que também pode ser entendido como cenografia em alguns casos:

  • Casa de espetáculo (ou a caixa, invólucro): ela é trabalhada interna e externamente, compondo a imagem em dois níveis de percepção, e pode ser entendida como uma cenografia;

  • Tela: é o local onde a ação vai se desenrolar;

  • Luz/iluminação: indispensável para o teatro de sombras acontecer, também pertence às poéticas cenográficas;

  • Silhuetas: que podem constituir tanto a cenografia como as personagens.

     Esses resquícios, os restos, usados para compor as visualidades do teatro lambe-lambe, existem como elementos agentes na composição narrativa e visual. Eles dialogam através das texturas, das formas e tudo o que acompanha esse material.

     Entendam agente como “[...] um ser com a capacidade de agir, e essa agência designa o exercício ou a manifestação dessa capacidade.” (Silva, 2018, p. 80) e que a ação “(...) não ocorre sob o pleno controle da consciência; a ação deve ser encarada, antes, como um nó, uma ligadura, um conglomerado de muitos e surpreendentes conjuntos de funções que só podem ser desemaranhados aos poucos.” (Latour, 2012, p. 72). Ou seja, é um trabalho conjunto com a matéria considerando o que ela pode oferecer e para quais redes ela se liga, alterando também a maneira de olhar para ela e tê-la em cena.

     Notem que não é um material específico para se trabalhar determinada linguagem, é lixo, embora não seja uma novidade trabalhar com materiais recicláveis ou descartáveis para produções cênicas, se faz necessário refletir o que essa materialidade nos diz. É um material para ser pensado enquanto ecologia, em um sentido mais amplo, pois, segundo Julie Sermon “O que a ecologia nos ensina, ou melhor, nos ensina novamente, é que o ser humano não é alheio à natureza: faz parte dela, conectada a todos os elementos, animados e inanimados, orgânicos e inorgânicos, que constituem a realidade do mundo.” (2021, p. 30).

     O que quero dizer com isso, é que o lixo é produzido por nós, seres humanos, e por isso faz parte dos seres humanos, e também da natureza (infelizmente), tanto que hoje se fala no antropoceno, e os impactos negativos da ação humana. O nosso lixo está constituindo paisagens naturais.

   Apesar desta preocupação ambiental existir, ela não condiciona a temática das minhas experimentações, mas é um ponto importante a ser apresentado aqui, pois crio a partir da observação da natureza, como as mudanças da luz durante o dia, o céu que muda de cor conforme as horas passam, do movimento das árvores com o vento, do voo das aves, etc., mas o que há além dessas coisas na natureza? O lixo. Quais paisagens se fazem presentes nos trajetos de casa? Entulhos em terrenos baldios. Quando estou em casa, o que a natureza do cotidiano me dá enquanto objetos? Coisas comuns, objetos ordinários, restos e uma infinidade de coisas que podem ser encontradas dentro de uma casa. Enfim, utilizo-me daquilo que a natureza tem a me fornecer, geralmente o mais inútil , como restos, cascas, e também outros dejetos que nascem pelas mãos humanas, como o lixo inorgânico.

     Nas Imagens 1 e 2, as cascas da cebola e do ovo, que fazem parte de um elemento orgânico e têm suas funções bem definidas na biologia, são utilizadas em uma experiência de luz e sombras. A partir do momento que elas são utilizadas como uma tela de projeção, ganham, portanto, outros significados e se modificam na relação com a iluminação e as silhuetas. A casca adquire um papel fundamental no espetáculo: tanto por existir na cena de forma dinâmica, como por ressignificar a obra teatral, ela adquire agência e propõe outras leituras imagéticas.

                                       Experimentos com a casca de cebola.                                             Experimentos com casca de ovo e cebola.

                                       

                                           Fonte: Elaborada pela autora, 2021.                                                  Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

    Essa pesquisa com as cascas resultou na videoarte To rest our hearts, que futuramente será transformado em um espetáculo de teatro lambe-lambe, e quando isso ocorrer, outros elementos que dialogam com essas formas serão adicionados para criar a casa de espetáculo dessa narrativa.

     Na imagem 3, 4 e 5 tem-se a imagem externa do espetáculo de teatro lambe-lambe Mergulho (ainda não estreado), tendo sua maior parte produzida a partir de materiais do cotidiano, exceto colas, imãs, parafusos e tintas. Porém, eles têm origem do campo do inorgânico: garrafa de vidro, garrafa PET (de óleo), acetato, plástico bolha, sacolinha de supermercado, caixa de ovo, etc.

     Essa pesquisa nasceu do material “garrafa, partiu desse objeto, sem uma história prévia. Então comecei a pensar em figuras, desenhei o que poderia existir dentro de uma garrafa (que afundou em um mar ou em um rio, ou que foi jogada… a princípio uma imagem clichê, mas que abre caminhos), criei e recriei silhuetas, para então trabalhar na parte externa da garrafa, ao finalizar, voltei para as silhuetas, desenvolvi a ação e iluminação e finalizei com o acabamento de cobertura do tripé.

                                                                        Teatro lambe-lambe Mergulho.

                            Fonte: produzido pela autora, 2023.

     O primeiro ponto para o qual chamo a atenção, é que o espetáculo nasceu da forma, através de um olhar atento para as coisas abandonadas dentro de casa. E que a forma, a coisa, tem sua participação ativa: essa garrafa tem um fundo retangular e relativamente grande, sua natureza já forneceu uma tela, trazendo assim uma forma favorável para tal fim que recebeu. O segundo ponto é que a forma traz níveis de ação e percepção: primeiro contato, a parte externa já conta algo, quando ela é aberta, é visto uma série de ações, que são espelhadas na água que está lá dentro - na verdade a performance acontece do lado de fora da garrafa, mas é vista por dentro.

                                                                                                           Teatro lambe-lambe Mergulho.

                                                                 

                                                          Fonte: produzido pela autora, 2023.

      Aos poucos, detalhes foram sendo adicionados à forma externa, para poder haver um confronto entre o agradável, bonito, e o incômodo do lixo. E internamente, elementos foram sendo adicionados também, como a rede que está do lado de fora, também há uma rede em sombras.

    A garrafa, enquanto um elemento não-humano, especificamente essa que estou utilizando, além do conteúdo, trouxe-me proposições de posicionamento, de cobertura com texturas, espaço cênico. Se não fosse essa garrafa, provavelmente eu teria uma outra narrativa. Ela trouxe uma rede específica de possibilidades.

     Os outros elementos, que durante a pesquisa, foram se fazendo presentes e reforçando esse universo que estava sendo construído. É uma garrafa situada em espaço específico, com elementos que trazem um contexto.

     O que se assiste dentro da garrafa, ou melhor, no fundo da garrafa, é um mundo quase monocromático (ver Imagem 6). As silhuetas são trabalhadas, majoritariamente, com o desenho no acetato combinadas com papel cartão preto. Enquanto fora há muitas cores, muitas informações e detalhes, dentro há uma síntese: figuras no preto-transparência, a fonte luminosa é apenas uma, sem movimentação… No entanto, a maioria das silhuetas ganham alguma articulação e mecanismos para movimento. Considerando que não há ações complexas e ritmadas pela luz e nem muitos efeitos de texturas e cores, o movimento foi evidenciado através dos mecanismos e deslocamentos pelo espaço (tela).

                                                                                                            Silhuetas “Mergulho”.

                                                    Fonte: produzido pela autora, 2023.

     Até agora, aqui, falei de dois trabalhos dentro da mesma linguagem, mas operados de maneiras diferentes e com singularidades que respondem ao não-humano. Enquanto um é atravessado pelos restos orgânicos, o outro é marcado pelo inorgânico, um mundo em plástico e materiais que talvez vivam muito mais que eu. São pesquisas marcadas visualmente pelo tempo presente em que estão nascendo: o contexto.

      No trabalho com as cascas, o contexto era o da pandemia (quase no final), índices da fome no Brasil aumentado e crescente esgotamento emocional das pessoas. Então nesse trabalho não queria um mundo real, mas um mundo capaz de trazer acalento. Pois, as leituras de mundo não acontecem somente pelos fatos dados, mas também pelas possibilidades de recriar e vislumbrar além, tal como quando olho para o objeto inútil e enxergo além.

     No trabalho com a garrafa, ainda sem aporte financeiro para desenvolver grandes projetos, estava entregue ao que o cotidiano me fornecia, disponível para ver e sentir o mundo ao meu redor. Não reproduzi o hoje, mas trouxe elementos do que tem afetado o meio ambiente combinados com uma realidade fantástica e, novamente, sem a pretensão de representar o mundo, e sim lê-lo de outra maneira possível.

    Com os elementos base - luz, corpo (humano ou não humano) e anteparo/tela - já é possível produzir uma vivência em teatro de sombras no lambe-lambe, produzir algo visual, com uma cenografia ativa e com camadas. É uma prática em si muito simples, mas que pode ser imbuída de complexidades a partir da pesquisa e das experimentações, ou dos processos criativos, que irão gerar espetáculos, com a possibilidade de ler o mundo através das coisas mais ordinárias e com existência ativa na obra, através da visualidade. De qualquer modo, se há atenção e um olhar disponível para dialogar com as coisas, elas nos dirão muito sobre o mundo e nos darão caminhos para reinventá-lo.

1 Esse artigo faz parte da minha pesquisa de doutorado.

2 O teatro lambe-lambe é uma linguagem dentro do teatro de animação, em que um espetáculo de curta duração acontece dentro de invólucro e que geralmente é apresentado de uma pessoa para uma pessoa. A linguagem é brasileira e foi criada por duas nordestinas: Ismine Lima e Denise Di Santos, em 1989.

3 Sobre o teatro de sombras Balinês.

4 Restos orgânicos vão desempenhar um papel muito importante na natureza e não há dúvidas sobre isso, então quando digo “inútil”, não me refiro a algo desimportante, mas por entender que estou em uma sociedade capitalista, logo, movida pelo capital e as relações de função e utilidade, utilizo os termos “útil” e “inútil” para dialogar com as leitoras sobre as coisas, o não-humano, que existe para além da servidão ao ser humano. E que elas são observadas e utilizadas de uma maneira que conceitos e rótulos aplicados às coisas em uma perspectiva utilitarista não abrangem.

5 Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9c0IGwsgmQ4

Referências Bibliográficas

LADEIRA, Juliana Coelho de Souza. A formação do dalang em Bali: o marionetista no teatro de sombras wayang kulit. Urdimento, [S.L.], v. 2, n. 32, p. 330-347, 10 out. 2018. Universidade do Estado de Santa Catarina. http://dx.doi.org/10.5965/1414573102322018330. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/1414573102322018330/8891 . Acesso em: 02 ago. 2023

LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria ator rede. Salvador: Edufba e Edusc, 2012. 400 p. Tradução de Gilson César Cardoso de Sousa.

MONTECCHI, Fabrizio. Em busca de uma identidade: reflexões sobre o Teatro de Sombras Contemporâneo. In: MORETTI, Gilmar Antônio; BELTRAME, Valmor Nini (ed.). Móin-Móin - Revista de Estudos sobre Teatro de Formas Animadas: teatro de sombras. TEATRO DE SOMBRAS. 9. ed. Florianópolis: Design Editora, 2012. p. 22-37.

SERMON, Julie. Teatro e ecologia: mudança de escalas ou de paradigma?. Móin-Móin - Revista de Estudos Sobre Teatro de Formas Animadas, [S.L.], v. 2, n. 25, p. 24-49, 18 dez. 2021. Universidade do Estado de Santa Catarina. http://dx.doi.org/10.5965/2595034702252021024. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/moin/article/view/21420 . Acesso em: 02 ago. 2023.

SILVA, Patrícia Maria. A virada sócio materialista e a agência dos não-humanos. Conhecimento em Ação, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 70-91. 2018. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/110188 . Acesso em: 02 ago. 2023.

Daniele Viola. (Cia. Libélulas, Brasil) é atriz, sombrista, mascareira, iluminadora, lambe-lambeira e pesquisadora do teatro de animação. Doutoranda (na área de teatro de sombras) e Mestra pelo Programa de Pós Graduação em Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina/PPGT- UDESC (na área de máscaras e iluminação cênica). Bacharela em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e em Educação Física e Esporte pela Universidade de São Paulo (USP). Premiada pela UNIMA KOREA (2022 World Peace Prayer Puppet Theater Video Contest). É co-fundadora e integrante da Cia. Libélulas (2014) e integrante do Coletivo Teatro de Caixeiros (2022). daniele.viola@alumni.usp.br

“A configuração do palco e a disposição de todos os elementos do wayang kulit têm uma correspondência simbólica e mística com a cosmologia esotérica balinesa: a tela (kelir) é o símbolo do universo. É também o limiar entre os mundos visíveis (sekala) e invisíveis (niskala). A kelir é amarrada em sua base a um tronco de bananeira (gedebong) e nele as marionetes são dispostas e cravadas em orifícios. O gedebong corresponde à deusa Pertiwi, à Terra-Mãe. As cordas que esticam a tela representam os tendões e músculos humanos, enquanto o damar, a lâmpada de óleo de coco, simboliza o sol.” (Ladeira, 2018. p 335)³